quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Diccionário de palavras e termos que se diziam em Vilarandelo

Tanto em vilarandelo, como em muitas aldeias de Trás-os-Montes e do resto do nosso país, existem maneiras proprias de falar.
O que eu quero dizer é que somos um país muito diversificado e no campo dos regionalismos a diversidade é imensa.
Com a boa vontade de algumas pessoas consegui juntar algumas palavras e termos que se diziam aqui em Vilarandelo e obviamente na região, o que não quer dizer que nas aldeias e vilas perto de Vilarandelo não se falasse algumas destas palavras de uma outra maneira.
Assim sendo, a minha ideia seria apelar a algum Vlarandelense que se lembre de mais palavras, expressões e termos antigos que as deixe num comentário no final deste post, ou que envie para o meu mail : paulopascoal@gmail.com

Então aqui vai:



Asa – nome dado também à pega dos utensílios de cozinha
Amigado – amancebado (união ilícita)
Amantizado - Amancebado(união ilícita)
Obs: Apesar de sinónimos, o povo atribuia-lhes significados diferentes. “Amigado” implicava uma união de facto entre pessoas solteiras e livres. “Amantizado” implicava que um deles era casado e se tornou amante.
Avia-te! – mexe-te! Apressa-te!
Amanhar – Arranjar; preparar; concertar
Arrepelar – puxar os cabelos
Almude – medida para líquidos (25 litros)
Almoço – era para os mais antigos a refeição a meio da manhã ( o nosso actual pequeno almoço)
Alqueire – medida para cereais , usando a rasa ( usado tambem para as leguminosas, batata e castanha)
Arrasar – decompor alguem com palavras feias
Avelada – enrrugada (diz-se da castanha meio seca)
Aguçar – afiar
Aguça – apara lapis
Aloquete – cadeado
Arujo – lasca que caiu na comida ou alguma coisa que entrou no olho.
“À minha beira” – ao pé de mim
Bacia – alguidar
Biju – carcaça
Bufar – soprar
Bafio – mofo, bolor
Badejo – geralmente pronunciava-se “varejo ou vadejo” que presume-se derivar de vadiar. Alguem que anda no badejo é alguem que anda a na diversão, “anda ao fado”, saiu com uns amigos para se divertir, etc.
"Bô bem mou finto!" - Não acretido!
Cá botar - Expressão utilizada quando se ia buscar os animais ao pasto, ex: "vou cá botar o burro"
Caçoulo/a – recipiente cilindrico em barro
Canalha – alem de utilizar este termo para uma pessoa que fez uma maldade tambem é usado com referencia às crianças ou seja: criançada.
Caldo – sopa
Canada – medida para líquidos correspondente a 2 litros
Carabunha – semente de fruto (ex: ameixa, azeitona, pessego, cereja, etc.)
Caratcho ou carai - caramba
Cavalona ou caralhona - Maria Rapaz
Cisco – lixo miudo, apara
Chôcho – fruto cujo o miolo está seco ( ex: nóz, amendoa,etc)
Cambada – porção de cachos de uvas unidos por um cordel para dependurar
Cabo – porção de cebolas devidamente unidaspara dependurar
Calcar – pisar
Cântaro – recipiente bojudo usado como medida de líquidos (metade do almude) e para ir à fonte buscar água (quando não havia amiude água canalizada)
Também como curiosidade: as nossas avós namoravam normalmente nas idas e vindas à fonte. Para prolongar esses momentos, as tanhas (ver tanha) nunca mais se enchiam, porque a água dos cântaros era vertida no chão...
Careto – homem mascarado
Chícharro – feijão frade
Cibo –pequena porção de alimento
Ceia – refeição da noite (o nosso actual jantar)
Corja – vadiagem
Capão – molho de vides ( alem de galo)
Carapins – meias de lâ
Chuço – guarda chuva
Coador – passador
Cruzeta – cabide
Curgidade - Uma pessoa que trabalha muito e faz as coisas com desembaraço
Dorna - Grande vasilha sem tampa , que serve para pisar as uvas em pouca quantidade (para fazer jeropiga ou vinho) e era utilizada em tempos mais antigos, para transportar as uvas da vinha para o lagarem carros de boi. Leva aprox. 6 almudes(ver "almude") de vinho.
Ervanço – grão de bico
Escarrapachar – sentar-se com as pernas abertas
Escorropichar – beber atá à última gota ou esvaziar completamente o líquido de qualquer recipiente
Espalhadoura – espécie de forquilha com 4 hastes co que se espalhava a palha, feno ou o estrume.
Nas eiras, aquando das malhadas, servia para separar a palha do grão
Esterco – estrume
Enfurretado – sujo com furretes (ver furrete)
Engaço - ancinho
Estouvado – doido, folgarzão
Espinha – borbulha
Estrugido – refogado
Engaranhado – que treme com o frio, que tem as mão tão geladas que consegue pegar em nada “parece que estás engaranhado!”
Enxofradeira - Instrumento no qual se coloca o enxofre, para depois se polvilhar a vinha.
Ferrar – morder
Furrete – sujo pelo carvão
Feluge – fuligem
Fado – tinha tambem o sentido de ramboia, pandega
Obs: Usava-se muito a expressão : “foi ao fado” querendo dizer: foi divertir-se...
Garabano ou garabanho – pequeno balde em lata encabado num pau com que se tirava água dos poços para regar as terras ( batata milho etc.)
Giga - É um cesto de grandes dimensões, feito de verga, utilizado para transporte de produtos agrícolas ou para levar o almoço para o campo. de menor dimensão utilizavam-se os "cestos" também feitos de verga, que eram utilizados nas vindimas, para apanhar fruta, ou para semear o centeio.
Guiço – pauzinho, ponta de ramo
Jantar – refeição principal do dia (o nosso actual almoço)
Jeira – trabalho remunerado de um dia, nomeadamente no campo
Obs: hoje a jeira equivale a 8 horas de trabalho diário. Antigamente era trabalho de sol a sol: isto é do nascer ao por do sol, nos dias de verão a jeira representava um trabalho diário de 12 a 14 horas!
Jeireiro/a – homem ou mujer que trabalha à jeira. É de lembrar (como curiosidade) que o jeireiro tinha direito a uma canada (2 litros) de vinho.
Larica – fome
Landum, lareu – pandega
Lapantim – rapaz atrevido
Lavadura – comida aguada para alimentar os porcos.
Loje ou loja – pavimento terreo onde habitam certos animais (porco, burro, coelho, etc)
Latada – armação da vinha e ainda bofetada ou tabefe
Maneia-te – mexe-te; apressa-te
Manducar – comer
Malga – tijela, usada nomeadamente para comer a sopa
Maquia – porção de grão ou fatrinha, azeitona ou azeite que os moleiros oulagareiros tiravam em paga do seu trabalho.
Confirmar junto a algun idoso se a maquia tambem era a paga nos alambiques, nos fornos comunitários e nas malhadas com máquina
Malhada – separação do grão da respectiva espiga usando o malho. Este trabalho era feito nas eiras.
Mochena – faúlha que salta do lume
Muchete – beliscão
Maroto – malicioso, brejeiro
Merenda – lanche
Molete – carcaça
Morrão – lagarta dos fruto e dos legumes
Peguilho ou isco – o que melhor se comia com o pão (presunto, salpicão, queijo, etc)
Píbeda – pevide
Picheleiro – canalizador
Pinga – vinho
Parreco – pato
Pavia - pessego duro do final do verão e sinonimo de vindimas
Pelar - queimar; escaldar
Pisadura – nódoa negra
Púcaro/a – vaso pequeno cilindrico co asa
Havia a expressão. “filho da púcara” quando se queria evitar a tal palavra que ninguém quer ouvir...
Pote – panela de ferro com 3 pés
Quartilho – medida correspondente a ½ de litro (as capacidades destas medidas diferem consoante as regiões do pais)
Ramboia – pândega
Rilhar – roer
Reco – porco
Rasa – medida para cereais e leguminosas equivalente ao alqueire (ver alqueire)
Remeia – medida de líquidos correspondente a meio cântaro(+ ou – 6 litros)
Obs: A remeia e o cântaro são exactamente iguais na forma e diferentes apenas no tamanho.
Sarroada – queda de alguém
Sertã – frigideira
Sobela - utensílio agrícola feito com um ferro cilindrico que depois de encavado num pedaço de madeira que servia de cabo servia para sovelar o milho ou seja desgranhar o milho.
Sote (sota) – loja
Tanha ou talha – vasilha de barrode grande bojo para guardar liquidos (água e azeite principalmente)
Taralhoco - maluquinho, doido
Trempe – base circular ou triangular em ferro, com 3 pés sobre a qual se colocavam as panelas ao lume .
Testo – tampa para panela ou pote
Tojo – alem do arbusto tinha também o sentido de laréu
Topada – batida involuntária do pé em qualquer objecto (porque se andava descalço)
Ruço – loiro
Racha – tronco de árvore cortada empedaços para a lareira
Trôcho – pau grosso
Trilhar – magoar
Trolha – pedreiro
Zerbada ou Zimbrada - chuva forte

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

MAGALHÃES – O GRANDE NAVEGADOR PORTUGUÊS OU AQUELE COMPUTADOR ESQUESITO QUE TEM UMA PEGA, É ANTICHOQUE E TEM O MESMO NOME DO NAVEGADOR PORTUGUÊS?




Quando pensei inicialmente neste blog, era com a ideia de tratar aqui apenas informação relativa ao passado de Vilarandelo, tradições, folclore, etc. Mas depois, achei que se deve fazer sempre uma ligação com o presente, ou seja, procurar não falar do passado como apenas uma sequência de acontecimentos ou de coisas que se fizeram e nada mais. A minha ideia é aprender alguma coisa desse passado para o aplicar no presente. Por isso alguns acontecimentos relevantes do nosso tempo também serão aqui falados, quando se tornar oportuno.
Para começar gostaria de falar da novidade que o governo presenteou às crianças deste pais. Então é assim: a partir do primeiro ciclo (portanto a 1.ª classe), qualquer criança pode receber um computador portátil grátis ligado à internet, isto é, dependendo dos rendimentos dos pais, que na pior das hipóteses pagam pelo computador um máximo de 50 €.
Mas há mais, a partir do segundo ciclo (5º.ano) e até ao 12.º ano, qualquer criança/jovem tem direito a receber um computador portátil por 150 € já com ligação à internet.
O governo e demais promotores desta campanha que vai custar rios de dinheiro aos contribuintes, faz passar a ideia que o computador Magalhães será mais uma ferramenta de trabalho como os livros, os cadernos e as canetas. O problema é que o computador não é apenas mais uma ferramenta de trabalho, mas também um instrumento que proporciona ao utilizador, momentos de lazer e de diversão. Agora imaginem crianças de 6, 8, ou até 12 anos de idade com um computador portátil nas mãos. Se calhar quem não está muito dentro deste mundo da informática não fará grande ideia dos possíveis problemas que crianças de tenra idade possam vir a ter. Eu queria deixar claro que não sou contra esta campanha, até sou um adepto da informática, penso apenas que os computadores só deviam ser entregues a partir de uma determinada idade e aos alunos com melhores médias escolares e não a crianças com idades tão baixas.
Com a vinda destes computadores, aprender a escrever em papel (fundamental para desenvolver a motricidade e o gosto pela escrita) vai forçosamente ficar em segundo plano, visto que a prioridade vai ser a aprendizagem da escrita no computador, que levará os miúdos a se esforçarem cada vez menos a corrigir erros ortográficos e a escrever com perfeição.
Isto é uma espécie de chamada de atenção mais para aqueles pais que ainda não estão muito dentro destes assuntos. Não estou a dizer que o computador seja um “bicho mau” ou o “papão”, só estou a apenas a dizer que os pais têm de andar com atenção redobrada para que os seus filhos não se viciem nestas máquinas. Tal como o telemóvel, o computador vai ser ou já é, mais um objecto pessoal que os vai prender, que os vai viciar. Por isso é preciso estarem vigilantes, principalmente se eles estiverem ligados à internet, que por um lado, é um manancial de sabedoria, mas por outro lado, há muita gente mal intencionada que se aproveita da ingenuidade das crianças e se infiltram em hi5’s, msn’s e por aí fora, fazendo-se passar por crianças, mas que na realidade são pedófilos à espera de um oportunidade para atacar. Outra situação a que os pais tem de estar atentos, é não deixar as crianças muito tempo à frente do computador, quanto mais cedo e mais tempo as crianças estiverem à frente do ecrã mais depressa terão problemas de visão. Por outro lado muito tempo à frente do computador também contribui para que a criança fique obesa, que em vez de andar na rua a brincar com os colegas em brincadeiras mais saudáveis, passa horas sentado ao computador a fazer de tudo, menos (julgo eu) estudar.

Eu lembro-me quando era miúdo (e não sou um rapaz muito antigo!), juntávamo-nos aos grupos de 10 ou 15 crianças e brincávamos no bairro de uma forma saudável, ou ia-mos aos ninhos, ou passávamos pelo Piago para rasgar lá as calças no escorregadouro. Enfim, as brincadeiras da miudagem eram mais em contacto com a natureza do que são hoje em dia.
Os miúdos de outros tempos podiam não ser tão inteligentes como os de agora, teriam muitos menos brinquedos e tecnologias, mas a meu ver, a vida era vivida com muita mais intensidade, amor e dedicação, havendo tempo para tudo. As crianças de hoje têm coisas a mais e perdem a capacidade de deslumbramento muito cedo. Estamos na sociedade do imediato, das coisas dadas de bandeja. Os miúdos de agora já não lutam para conseguir ter aquilo que desejam, apenas pedem e os pais dão.
Neste caso do computador Magalhães, o governo só vem ajudar a acelerar a que se perca quase totalmente a capacidade de deslumbramento e o tempo livre para brincar que outrora as crianças tinham.
Com o objectivo de racionar os gastos com a educação, fecharam-se centenas de escolas em todo país, para se abrirem super escolas centradas nas sedes de concelhos onde irão albergar todas crianças dos concelhos a que pertencem. Vilarandelo não foi excepção, porque nisto de racionar, muitas vezes não se olha aos casos concretos, e fazem-se erros que serão irreversíveis. Com a abertura da futura super escola de Valpaços, todos os alunos do concelho (primarias e secundarias), terão de se deslocar diariamente a Valpaços para estudar, fechando-se assim escolas em óptimas condições. Tudo isto vai levar a que devido à falta de sensibilidade dos governantes, e devido a não ter havido uma luta forte e coesa por parte das associações de pais e dos presidentes dos concelhos directivos das escolas. Falando mais concretamente em relação ao caso da E/B Professor Ribeirinha Machado em Vilarandelo, vamos ter crianças de 6 anos que se levantarão muito cedo e a chegarão tardíssimo a casa com a agravante que ainda terão de fazer os trabalhos de casa que o professor manda. As crianças destas aldeias e vilas vão perder a qualidade de vida que tinham há 10 anos atrás, onde havia tempo para tudo, brincar, estudar e ajudar os pais.
Com a carga horária que as crianças têm na escola e o excesso de informação dado a elas desde tenra idade, estaremos a criar adultos em tamanho pequeno, a retirar o tempo de brincadeira saudavel de que toda a criança precisa. Numa idade em que deviam (alem de estudar) acima de tudo de brincar e interagir com os demais, estão encerrados nos quartos ou numa sala de aula à frente de um computador que se chama de Magalhães e que não é o grande navegador Português, mas um computador esquisito que tem uma pega e que vai ser “oferecido” a todos os miúdos do primeiro ciclo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Piago (cont.2)






Escorregadouro do Piago

Noutros tempos onde não havia televisões nem computadores, a pequenada vinham aos grupos pelos campos à procura de ninhos e armados de fisgas, era uma alegria, tudo era divertimento. Por isso quando passavam pelo Piago dirigiam-se a uma enorme fraga que ali existe e vai de escorregar por ela abaixo. Cortavam ramos de giesta e punham-nos debaixo do rabo para escorregar mais rápido e não magoar tanto. Aquilo é que era uma aventura! O pior era quando chegavam a casa e as mães olhavam para as calças dos rapasolas, algumas ficavam rasgadas, outras todas verdes das giestas, enfim, já se está a ver, os miúdos recebiam um prémio por “bom comportamento”.
A verdade é que apesar de levarem uns bons tabefes, no dia seguinte estavam lá outra vez no escorregadouro do Piago! Nunca ouviram dizer que o proibido é o mais apetecido?



Piago (cont.)






Piago - Onde os moinhos contam histórias de outros tempos







O Piago é um espaço, bem junto à vilarandelo, onde de vez em quando vou para sentir mais de perto a natureza, para meditar, ou simplesmente olhar para o pequeno regato que ali passa.

Embora no Verão o pequeno riacho quase que seca, não deixa de ser sem duvida um local bem aprazível.

Ainda existem ali umas ruínas de antigos moinhos que outrora se fartaram de moer os grãos de centeio e trigo.

Outrora, o riacho corria bem mais forte que nos dias de hoje, pois era através da energia da água que as mós trabalhavam.

Os nossos antepassados sabiam aproveitar a natureza, as energias alternativas eram aqui bem exploradas.

Deixo aqui em cima algumas fotos desse local mágico que é o piago.