quarta-feira, 15 de outubro de 2008

MAGALHÃES – O GRANDE NAVEGADOR PORTUGUÊS OU AQUELE COMPUTADOR ESQUESITO QUE TEM UMA PEGA, É ANTICHOQUE E TEM O MESMO NOME DO NAVEGADOR PORTUGUÊS?




Quando pensei inicialmente neste blog, era com a ideia de tratar aqui apenas informação relativa ao passado de Vilarandelo, tradições, folclore, etc. Mas depois, achei que se deve fazer sempre uma ligação com o presente, ou seja, procurar não falar do passado como apenas uma sequência de acontecimentos ou de coisas que se fizeram e nada mais. A minha ideia é aprender alguma coisa desse passado para o aplicar no presente. Por isso alguns acontecimentos relevantes do nosso tempo também serão aqui falados, quando se tornar oportuno.
Para começar gostaria de falar da novidade que o governo presenteou às crianças deste pais. Então é assim: a partir do primeiro ciclo (portanto a 1.ª classe), qualquer criança pode receber um computador portátil grátis ligado à internet, isto é, dependendo dos rendimentos dos pais, que na pior das hipóteses pagam pelo computador um máximo de 50 €.
Mas há mais, a partir do segundo ciclo (5º.ano) e até ao 12.º ano, qualquer criança/jovem tem direito a receber um computador portátil por 150 € já com ligação à internet.
O governo e demais promotores desta campanha que vai custar rios de dinheiro aos contribuintes, faz passar a ideia que o computador Magalhães será mais uma ferramenta de trabalho como os livros, os cadernos e as canetas. O problema é que o computador não é apenas mais uma ferramenta de trabalho, mas também um instrumento que proporciona ao utilizador, momentos de lazer e de diversão. Agora imaginem crianças de 6, 8, ou até 12 anos de idade com um computador portátil nas mãos. Se calhar quem não está muito dentro deste mundo da informática não fará grande ideia dos possíveis problemas que crianças de tenra idade possam vir a ter. Eu queria deixar claro que não sou contra esta campanha, até sou um adepto da informática, penso apenas que os computadores só deviam ser entregues a partir de uma determinada idade e aos alunos com melhores médias escolares e não a crianças com idades tão baixas.
Com a vinda destes computadores, aprender a escrever em papel (fundamental para desenvolver a motricidade e o gosto pela escrita) vai forçosamente ficar em segundo plano, visto que a prioridade vai ser a aprendizagem da escrita no computador, que levará os miúdos a se esforçarem cada vez menos a corrigir erros ortográficos e a escrever com perfeição.
Isto é uma espécie de chamada de atenção mais para aqueles pais que ainda não estão muito dentro destes assuntos. Não estou a dizer que o computador seja um “bicho mau” ou o “papão”, só estou a apenas a dizer que os pais têm de andar com atenção redobrada para que os seus filhos não se viciem nestas máquinas. Tal como o telemóvel, o computador vai ser ou já é, mais um objecto pessoal que os vai prender, que os vai viciar. Por isso é preciso estarem vigilantes, principalmente se eles estiverem ligados à internet, que por um lado, é um manancial de sabedoria, mas por outro lado, há muita gente mal intencionada que se aproveita da ingenuidade das crianças e se infiltram em hi5’s, msn’s e por aí fora, fazendo-se passar por crianças, mas que na realidade são pedófilos à espera de um oportunidade para atacar. Outra situação a que os pais tem de estar atentos, é não deixar as crianças muito tempo à frente do computador, quanto mais cedo e mais tempo as crianças estiverem à frente do ecrã mais depressa terão problemas de visão. Por outro lado muito tempo à frente do computador também contribui para que a criança fique obesa, que em vez de andar na rua a brincar com os colegas em brincadeiras mais saudáveis, passa horas sentado ao computador a fazer de tudo, menos (julgo eu) estudar.

Eu lembro-me quando era miúdo (e não sou um rapaz muito antigo!), juntávamo-nos aos grupos de 10 ou 15 crianças e brincávamos no bairro de uma forma saudável, ou ia-mos aos ninhos, ou passávamos pelo Piago para rasgar lá as calças no escorregadouro. Enfim, as brincadeiras da miudagem eram mais em contacto com a natureza do que são hoje em dia.
Os miúdos de outros tempos podiam não ser tão inteligentes como os de agora, teriam muitos menos brinquedos e tecnologias, mas a meu ver, a vida era vivida com muita mais intensidade, amor e dedicação, havendo tempo para tudo. As crianças de hoje têm coisas a mais e perdem a capacidade de deslumbramento muito cedo. Estamos na sociedade do imediato, das coisas dadas de bandeja. Os miúdos de agora já não lutam para conseguir ter aquilo que desejam, apenas pedem e os pais dão.
Neste caso do computador Magalhães, o governo só vem ajudar a acelerar a que se perca quase totalmente a capacidade de deslumbramento e o tempo livre para brincar que outrora as crianças tinham.
Com o objectivo de racionar os gastos com a educação, fecharam-se centenas de escolas em todo país, para se abrirem super escolas centradas nas sedes de concelhos onde irão albergar todas crianças dos concelhos a que pertencem. Vilarandelo não foi excepção, porque nisto de racionar, muitas vezes não se olha aos casos concretos, e fazem-se erros que serão irreversíveis. Com a abertura da futura super escola de Valpaços, todos os alunos do concelho (primarias e secundarias), terão de se deslocar diariamente a Valpaços para estudar, fechando-se assim escolas em óptimas condições. Tudo isto vai levar a que devido à falta de sensibilidade dos governantes, e devido a não ter havido uma luta forte e coesa por parte das associações de pais e dos presidentes dos concelhos directivos das escolas. Falando mais concretamente em relação ao caso da E/B Professor Ribeirinha Machado em Vilarandelo, vamos ter crianças de 6 anos que se levantarão muito cedo e a chegarão tardíssimo a casa com a agravante que ainda terão de fazer os trabalhos de casa que o professor manda. As crianças destas aldeias e vilas vão perder a qualidade de vida que tinham há 10 anos atrás, onde havia tempo para tudo, brincar, estudar e ajudar os pais.
Com a carga horária que as crianças têm na escola e o excesso de informação dado a elas desde tenra idade, estaremos a criar adultos em tamanho pequeno, a retirar o tempo de brincadeira saudavel de que toda a criança precisa. Numa idade em que deviam (alem de estudar) acima de tudo de brincar e interagir com os demais, estão encerrados nos quartos ou numa sala de aula à frente de um computador que se chama de Magalhães e que não é o grande navegador Português, mas um computador esquisito que tem uma pega e que vai ser “oferecido” a todos os miúdos do primeiro ciclo.

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